A música antes dos instrumentos


A História da Arte – XXV:
por Rui Serra e Moura


Desculpem lá mas a culpa não é minha. A culpa de todos estes “fones” – membranofones, idiofones, aerofones, cordofones e electrofones -, é do Erich Von Hornbostel e do Curt Sachs, que decidiram criar este sistema de classificação de famílias de instrumentos musicais, com base na geração de sons. E fizeram muitíssimo bem! Mas disso falaremos mais tarde. 

Perguntava eu no meu último texto “que outro tipo de instrumentos desta era poderíamos nós vir a encontrar? “
Reparem que estamos a falar de há cerca de quarenta e três milénios, e de materiais putrescíveis como cana ou madeira. Facilmente poderemos concluir que nenhum. 
É que tanto a existência como a subsistência de qualquer tipo de instrumento de cordas, de qualquer tipo de tambor, de qualquer instrumento metálico, ou de qualquer outro tipo de instrumento de sopro, são extremamente improváveis, já para não falar dos instrumentos eléctricos, claro está. 

Alguns arqueólogos e historiadores avançam a possibilidade de um “litofone“,- instrumento constituído por lâminas de pedra, à semelhança de uma marimba ou de um xilofone -, mas a verdade é que não se comprovou ainda a existência de tal instrumento. Também não importa. O que importa é que comprovando-se a existência de instrumentos musicais há pelo menos 40.000 anos, forçosamente temos de concluir que os humanos já praticavam actividades musicais nessa era. 

Mas a grande questão é se não podemos igualmente concluir que a prática musical precede a da criação de instrumentos musicais, tal como a linguagem precede a escrita, e resulta por demais evidente que sim. 
Tanto o uso da voz para o canto, como o das mãos para a percussão, apresentam-se como extremamente plausíveis, como meio de produção de sons com uma qualquer lógica musical, seja ela recreativa, utilitária ou litúrgica. 
Pelo menos para mim, para vários cientistas, e espero que para vós também. 

Até breve.


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