A História da Arte XXXIII



Para acabar (mas não de vez) com a Antropologia
por Rui Serra e Moura


Esta ideia de que vos falava no texto anterior, de a música (afinal) não ser uma linguagem universal, obviamente não é minha.
É sim, a conclusão a que chegaram entre outros Mantle Hood, Charles Seeger, - o pai de Pete Seeger -, Curt Sachs, George Herzog, Alan P. Merriam e Robert Moorey, todos antropólogos ou etnomusicólogos da primeira metade do século passado, através de observações e experiências que conduziram, e que este ultimo sintetizou assim: “a música (…) não exprime emoção a auditores cujo treino musical e social seja diferente do do compositor da música.” Simples.

E assim se desconstrói um mito, que não por coincidência, revela bem e em toda a extensão, o já referido etnocentrismo ocidental.
E se ainda subsistirem dúvidas, bastará nestas olimpíadas que estão a decorrer, atentar em como soam e são ocidentais, os hinos das mais de duas centenas de países participantes.

Mas o que é realmente importante aqui, não é tanto a queda deste mito; é mais o que ela encerra.
E foi aliás isso mesmo o que me trouxe aqui: é que julgo não haver registo ou notícia de um povo ou de uma etnia, por pouco populosa que seja, em todo o mundo, que não exiba um qualquer tipo de manifestação musical na sua cultura, o que claramente afirma a universalidade da música.
Ou seja: se a música não é uma linguagem universal, - e de facto, não o é -, daqui se infere no entanto, que a Música é universal, um pouco do mesmo modo que não existindo um idioma, uma língua universal, a Linguagem é todavia universal.
Isto levar-nos-ia de novo à Linguística, e aos “Cantores de Neanderthal” a que me referi anteriormente, mas o que importa salientar aqui, é que a música é, a par da linguagem e - numa inteiramente outra vertente - da religiosidade ou misticismo, uma das mais ancestrais e inerentes características humanas, que sempre esteve e perdura ainda no âmago da nossa própria essência enquanto espécie. 


E isso é absolutamente impar. Não só entre as artes, mas também entre a multiplicidade das actividades humanas.
Creio mesmo na grande probabilidade de a articulação musical preceder a etimológica, mas isso é todo um outro debate que não interessa agora encetar.
Interessa sim realçar em conclusão, que é esta a minha tese ou aquela que subscrevo, - a de que a Música é das mais importantes e ancestrais e universais características da essência humana -, e também que gostaria imenso de num futuro próximo, retomar esta perspectiva antropológica da musica, para melhor procurar explorar, aprofundar e compreender, este fenómeno que muito me e nos interessa e apaixona.

Votos de que tenham ou tenham tido umas boas férias, e até breve.


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