O Estado da Arte – XII



Ter ou não ter? Eis a questão
por Rui Serra e Moura

Se estão recordados, aqui há umas semanas fui buscar rodelas e gavetas, o meu avô e Júlio Verne, para acentuar o “salto quântico” existente entre a realidade aí então retratada, e aqueloutra descrita há três rubricas atrás em “Era uma vez um banho”. Devia ser bom o vinho desse jantar. Mas o que eu queria dizer é que enquanto hoje, principalmente nos quotidianos mais urbanizados, temos um acompanhamento musical quase permanente, no passado não assim tão distante, a realidade era bem outra nesses mesmos quotidianos: as populações não tinham nem muito, nem fácil acesso à música, que só experimentavam ocasionalmente, ou em quadras festivas, ou em dias de descanso, ou ainda aos serões nas famílias que tinham no seu seio um amador jeitoso para a guitarra, para o harmónio, ou para o bandolim - que isso do piano era abono de burguesias mais altas. Daqui resulta que um bem que era precioso, se tornou hoje imensamente comum e até vulgar. Melhor dizendo, a extrema popularização - aqui entendida como disseminação popular em variadas frentes - que a Música sofreu no século passado, como que a vulgarizou ao ponto da banalização. Bem sei que esta minha tese, apesar de todo o cuidado posto na escolha das palavras, pode muito bem ser contestada. Mas parece-me evidente e inquestionável que o facto de termos hoje um acesso híper-facilitado à fruição musical, diminuiu em grande medida a preciosidade e o “encanto mágico” com que percepcionamos a música. Isto mesmo desenvolverei seguidamente. Até lá.






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