O
Encanto Mágico e o Muito ou Pouco
por Rui Serra e Moura
por Rui Serra e Moura
O
que é então isso do “encanto mágico”? É uma expressão
utilizada pelo meu avô nuns escritos meio autobiográficos que ele
nos deixou, e eu não esqueci. Dizia ele que quando em miúdo ia ver
“a banda passar” (final do séc. XIX), experimentava então como
que um “encanto mágico” com o ribombar das tubas e dos
trombones, o serpentear dos clarinetes, o trovejar dos bombos e o
explodir dos pratos. Este encanto moldar-lhe-ia toda a sua vida e,
quiçá, até a minha. A diferença entre esta atitude, e a
gratuitidade com que os jovens hoje experimentam a música, é que
importa. Recordo-me imediatamente de uma conversa com um aluno mau, -
perdão -, um aluno meu, que me dizia ouvir muita música.
Perguntei-lhe se ele a escutava, e ele disse que sim, mas claramente
sem perceber muito bem o que eu queria dizer. Expliquei então que eu
pelo contrário, - para ele surpreendentemente -, não ouvia muita
música, justamente porque a gostava de escutar, e que quando queria
ouvir um ou dois pares de álbuns, tinha que disponibilizar-me o
tempo suficiente para o fazer em completa comunhão e imersão nas
obras, e não concomitantemente com qualquer outra coisa, como
percebi depois que esse meu aluno fazia, ou a estudar, ou ao
computador a trabalhar ou a navegar, ou até a correr. Lembro-me de
lhe confessar que eu não conseguia trabalhar no que quer que fosse a
ouvir música, porque inevitavelmente a minha atenção se focava na
música, independentemente do seu estilo ou autor, do meu agrado ou
desagrado, e não no que estivesse a fazer. Conclusão? Daqui a uma
quinzena. Até lá.
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