A Música e a Linguagem em Neanderthal



A História da Arte – XXVI
por Rui Serra e Moura


Temos assim a música como forma de expressão artística, com uma ancestralidade quase tão grande como a do próprio Homem, no sentido do Homo Sapiens moderno. Um bocadinho mais velha que a Sé de Braga, portanto.

Podemos apenas conjecturar, que o canto poderia ter um papel ligado ao acasalamento e à maternidade, e que a percussão e o ritmo estariam ligados à celebração e à liturgia ritual.
Tivesse ao menos David Attenborough filmado estas cenas, e todos teríamos a certeza.

Como tal não sucedeu, resta-nos apenas a dedução probabilística como meio de projectar uma realidade.
E como vimos, essa projecção aponta para uma ancestralidade a par da do próprio Homem.

Semelhante problemática ocorre no que respeita à Linguagem, por exemplo: sabemos da sua importância para o desenvolvimento intelectual e cognitivo do homem primitivo, sabemos que precede o aparecimento da Escrita, mas tanto somos incapazes de datar o exacto momento histórico em que se terá dado, como de precisar o modo como evoluiu.

Os estudiosos que se debruçaram sobre esta problemática, com proveniências tão diversas como a Linguística, a Arqueologia, a Psicologia e a Antropologia, parecem dividir-se e divergir entre teses mais próximas do princípio de continuidade, e outras mais defensoras do de descontinuidade, e ainda outras de pendor mais sincrético.

Não me deterei muito aqui, a não ser para referir que este é um debate muito contemporâneo, e que envolve académicos tão ilustres como Steven Pinker, Noam Chomsky e Steven Mithen.
É aliás deste último, - professor de Arqueologia na Universidade de Reading no Reino Unido, e pioneiro da Arqueologia Cognitiva, que introduziu o princípio da fluidez cognitiva -, uma obra que aqui há uns anos causou alguma polémica, intitulada “The Singing Neanderthals: the Origins of Music, Language, Mind and Body”.

Ao que julgo saber, esta obra ainda não foi traduzida para o português, (haverá uma edição traduzida para o espanhol que à partida não me parece nem digna, nem fidedigna!), mas nela é avançada a tese de que os processos evolutivos da música e da linguagem são em tudo similares, e mais do que isso, é sugerida uma grande interdependência e concomitância temporal entre ambos e entre outros.

Até breve.



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