Breve História da Antropologia – O Grande Cão




A História da Arte – XXIX
por Rui Serra e Moura

Sem perder de vista que o objectivo aqui reside na questão musical, é importante perceber primeiro que é pela observação do processo evolutivo, e também pela análise da raiz etimológica, que muitas das vezes, as coisas melhor se explicam.
O termo Antropologia, resulta então da conjugação dos étimos de origem grega “Antropos” e ”Logia”, que respectivamente significam Homem - no sentido de humanidade -, e Estudo – no sentido de ciência ou disciplina -, e materializa-se na “Ciência do Homem”. Literalmente.

Parece que o termo apareceu assim cunhado pela primeira vez logo no início do século XVI, num trabalho científico de Magnus Hundt (sim, significa mesmo Grande Cão!), ao tempo reitor da Universidade de Leipzig, cujas áreas de interesse abarcavam a Medicina, a Teologia e a Filosofia.

Quase no final desse mesmo século, um outro estudioso alemão de Teologia e Filosofia chamado Otto Casmann, consolidou definitivamente o termo como “a ciência da natureza humana”.
Reparem que numa era em que coincidem a Reforma Protestante, o Renascimento, e os Descobrimentos, a “Ciência do Homem” procura estudar nada menos que “a natureza humana”. E reparem também que tudo isto sucede há apenas 500 anos, quando se dá o primeiro momento da globalização da humanidade, e quando a maior parte deste grande grupo se desconhecia e estranhava mutuamente.
Não tenhamos portanto dúvidas: esta “Ciência do Homem”, que procura estudar a “natureza humana”, é de facto a “Ciência do Homem Caucasiano”, - para sermos generosos -, e o que realmente procura estudar é o que o distingue dos demais.

A Antropologia conhecerá depois grandes desenvolvimentos, tanto com o Iluminismo do séc. XVIII, como com o Positivismo do séc. XIX, sobretudo no que respeita ao rompimento com os dogmas e crenças que provinham da sociedade em geral, por via da vincada influência religiosa.
Mas a verdade é que em algumas paragens mais que noutras, a Antropologia chega à segunda metade do séc. XX, ainda muito marcada por uma clara prerrogativa diferenciadora entre o antropólogo civilizado, e o homem incivilizado, arcaico e primitivo, quando não selvagem, como objecto de estudo, entenda-se.
Claro que estou já no âmbito da etnografia, e claro que muito do que afirmo é contestável, mas como sou um grande admirador das virtudes da democracia norte-coreana, - já para não falar dos seus cabeleireiros, naturalmente -, prometo ripostar com o lançamento de um míssil balístico dirigido a quem se atrever a tal, e deixo o aprofundamento destas questões para um próximo texto.

Até breve


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