A História da Arte XXXI



Não de uns mas de tudo e de todos
por Rui Serra e Moura

Respondendo à questão formulada no meu texto anterior, é bom de ver que não há nem se deseja ou procura uma Antropologia etnocêntrica. Mas é forçoso admitir que em larga medida, sempre existiu um inescapável etnocentrismo nos estudos antropológicos, de que apenas recentemente a Antropologia se começou a libertar.

O modo de ver o mundo, os povos, as culturas e as sociedades, através das lentes dos valores, costumes e postulados europeus e depois ocidentais, moldou não apenas a Antropologia, mas também a própria História, – como já vimos, e no duplo sentido histórico e historiográfico -, e o próprio planeta até.
A sua divisão em estados, resulta de uma conceptualização ocidental, insignificante e incompreensível em muitas outras paragens.
Esta seria uma discussão interessante que no entanto aqui não cabe. Conto contudo vir a ilustrar como este etnocentrismo se estende também ao âmbito musical.

Mas esta constatação, é apenas uma das difíceis questões epistemológicas com que a Antropologia se debate hoje em dia, e que se soma ao outro debate das várias correntes teóricas que a marcam e marcaram, no qual não nos interessa deter para além da simples menção.
Interessa sim compreender os aportes que a Antropologia da Música e a Etnomusicologia nos poderão trazer, e perceber a sua distinção.
Basicamente, esta reside na necessidade de um estudo etnográfico requerer um trabalho de campo, e um estudo antropológico não, o que poderá nos sugerir embora erradamente, que um etnógrafo, seja ele Antropólogo ou Musicólogo, se encontra numa posição de vantagem científica.

Ora, para se estudar e analisar e compreender um fenómeno cultural desta dimensão e dispersão, é quase como se precisássemos não de “uns” mas “de tudo e de todos”; é quase como se precisássemos de muitos estudos etnomusicológicos para “alimentar” uma Antropologia da Música que não etnocêntrica. 

E isso … é algo que terá de ficar para breve.
Até lá.

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