O Estado da Arte XXXIX



Pãezinhos quentes
por Rui Serra e Moura

Falava então eu em quarenta milénios de música aqui há uns caracteres atrás.
Nesse sentido, perceber que a indústria fonográfica ou discográfica, com a relevância que se lhe atribui, é apenas um fenómeno recente, cuja duração corresponde grosseiramente à segunda metade do século XX, parece-me do mais elementar e puro bom senso.
Claro que já se vendiam fonogramas muito antes disso, e claro que apesar de tudo, também ainda se vão vendendo alguns.

Mas a verdade é que só com Elvis primeiro e com os Beatles depois, é que os números das vendas atingirão as cifras siderais que superando as melhores expectativas das editoras, fizeram com que elas se multiplicassem.
Parece-me evidente que o Pop/Rock, - conceito lato e inexacto de que me socorro para num só termo tentar agrupar por exemplo Sinatra e Nirvana, ou Amália e Xutos, entre muitos, muitos outros -, que nestes idos eclodiu, foi de facto a catapulta para uma indústria que por sua vez também o catapultou. Posteriormente retomarei esta linha.

Mas o verdadeiro factor crucial a ter em conta aqui, é o da massificação do consumo musical que então se passou a verificar, e que não é independente de outros eventos históricos, tais como a disseminação do acesso à electricidade, e o surgimento de uma classe média com efectivo poder de compra, que após o desfecho da Segunda Guerra Mundial, e principalmente no chamado mundo ocidental, passou a existir. Isso e a invenção do altifalante nos anos 20.
Temos portanto que a indústria editorial, que anteriormente editava música através da impressão de pautas, e que depois passou também a editar primeiro através de fonogramas cilíndricos de cera no último quartel do séc. XIX, e depois por meio de fonogramas vinílicos achatados (os conhecidos discos) na viragem para o séc. XX, via agora as suas vendas crescerem exponencialmente nestes anos 50 e 60, e esses mesmos discos venderem-se que nem pãezinhos quentes.

Até breve.

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